INTERVENÇÃO DE QUIM BOIX NO CONSELHO PRESIDENCIAL DA FSM ROMA, 14 E 15 DE FEVEREIRO DE 2014

Camaradas,

Em primeiro lugar, uma saudação acompanhada do meu desejo para que esta reunião obtenha o máximo de frutos, ou seja, que alcance a máxima eficácia para os objetivos da FSM.

Acredito que fizemos muitas tarefas neste ano, como analisamos nesse instante. Ficou demonstrado pelo Secretariado agora.

Eu vou acrescentar alguns elementos, fundamentalmente em quatro temas: nossa batalha sindical na Europa; a realidade na Espanha; minha experiência africana; e a nova UIS dos Pensionistas e Aposentados.

Referente à Europa, desejo expressa com clareza minhas preocupações pelas insuficiências que não podemos esconder. Como europeu, creio que a FSM não está hoje à altura das necessidades da luta de classes neste continente. É o continente onde acontecem recentemente as duras batalhas coletivas contra as decisões do capitalismo, mas ainda muito descoordenadas.

Em minha opinião, o Escritório Europeu da FSM não está à altura das necessidades. Certo que recebemos seus trabalhos e produções, no entanto, considero que a FSM, como organização, está em condições de dar um salto adiante, de fazer muito mais.

Proponho que, a partir deste Conselho Presidencial, sejam tomadas as medidas necessárias, e eu, como europeu, ajudarei na parte que me corresponda, para ser capaz, como FSM, de publicar pelo menos duas vezes por ano, um documento de avaliação das medidas que a Troika e a União Européia estão tomando na Europa contra a classe trabalhadora com o silêncio conivente do sindicalismo cúmplice do capitalismo.

Devem ser documentos que demonstram com clareza que é possível outra forma sindical diferente da que domina hoje na Europa. Refiro-me à atitude de subordinação do sindicalismo pelego* (amarelo) das CO (Comissões Operárias) e da UGT (União Geral dos Trabalhadores) na Espanha e da CES, Confederação Européia de Sindicatos.

A FSM não crescerá na Europa enquanto não difundimos com insistência uma posição clara como FSM, que demonstre que a luta de classes na Europa pode se desenvolver sem pactos sociais e sem subordinações. Precisamos ganhar a luta de idéias na Europa frente ao reformismo e ao oportunismo político e sindical.

Com documentos como os que proponho, será mais fácil coordenar os sindicatos de classe na Europa.

Agora falarei do estado espanhol. Não posso iniciar sem recordar com dor e tristeza a ausência que temos nesta reunião. O camarada Igor Urrutikoetxea não se encontra hoje mais conosco. Mais jovem que minha filha mais nova e um lutador com o qual comparti muitas batalhas da FSM. Meus agradecimentos a sua entrega e meu compromisso de continuar o que ele, entre outras atividades, fazia para divulgar a FSM no estado espanhol.

No estado espanhol, só avançamos na luta sindical classista quando coordenamos as opiniões dos diversos sindicatos com posições contrárias ao peleguismo e contrárias aos pactos sociais. Neste ano, foram feitas novas filiações à FSM e novas lutas que podem culminar em 2014 como uma nova greve geral, que mostrará a capacidade de luta da classe trabalhadora. Ainda que os sindicatos pelegos (amarelos) das CO e UGT convoquem greves gerais apenas para justificar suas existências.

Dizer-lhes que, no estado espanhol, nos ajudou e muito a estender as simpatias até a FSM, a preparação e realização do Primeiro Congresso Mundial de Pensionistas e Aposentados (PeA), ao que agora vou me referir.

No processo de preparação deste Congresso, fizemos muitas reuniões em quase todos os territórios do estado (nos falta ainda, de forma especial, Galícia) e em todas elas falamos mais da FSM do que dos PeA. Ainda devemos insistir mais para popularizar a FSM entre os sindicatos de classe de todo o estado.

Agora me comprometo a fazê-lo para difundir os acordos do Primeiro Congresso Mundial de Sindicatos Classistas da PeA, que já há uma semana foi criado a UIS nº10 da FSM e a primeira de todo o planeta. Ninguém, que não seja a FSM, busca organizar os PeA em uma estrutura capaz de impulsionar novas vitórias para a classe trabalhadora a nível planetário.

Antes de começar a explicar o Congresso dos PeA, quero dizer que, durante este ano que aqui estamos analisando, vivi duas importantes experiências de trabalho de formação sindical, uma no Senegal e outra na República Democrática do Congo. Foram dezenas de sindicalistas que participaram. Foram muitos sindicatos que conheceram melhor a FSM a partir destes seminários. Houve inclusive, novos filiados na FSM graças a estas experiências. Há solicitações de novos cursos e seminários. O que falta e proponho realizar é centralizar os documentos, em vários idiomas, que nos permita aproveitar melhor o trabalho de todos os que podemos dar cursos de sindicalismo.

Passando o Primeiro Congresso de Fundação da UIS de PeA, ligada à FSM, afirmamos que este está de acordo em lutar em todo o planeta para que todos os trabalhadores tenham direito, tendo ou não trabalhado um mínimo de anos, a aposentar aos 60 anos (ou antes, como na Bolívia, onde por lei podem aposentar com 55 anos e as mulheres com 3 ou mais filhos, aos 49 anos). Entretanto, não apenas aposentar, mas também dispor de uma pensão pública que lhes assegure uma qualidade de vida digna.

De tudo isso, falamos do Congresso de Barcelona. Foi um importante congresso com X delegados procedentes de Y países que fizeram esforços de se deslocarem e de contribuírem com suas idéias para reforçar a luta da FSM. Parte dos assistentes participou como observadores e posso afirmar que saíram do Congresso convencidos de que devem lutar em seus países para fortalecer a FSM.

O Congresso, além dos documentos aprovados (que vocês poderão ler na web: http://www.pensionistas.info), para a nova UIS, há também os Estatutos e uma direção com Z camaradas dos 5 continentes.

Um dos mais importantes acordos do recente Congresso da UIS de PeA, foi, conforme a aprovação da resolução final, a planificação da realização antes de dois anos dos Congressos Regionais, pelo menos um por continente, capazes de por em marcha em cada região planetária, as batalhas sindicais que nos documentos temos delineados.

Quero terminar esta intervenção pedindo para o Conselho Presidencial em seu conjunto, a cada membro da direção da FSM e a cada sindicato filiado à FSM, que analise a importância de organizar os PeA em cada território. Não é suficiente que, como PeA continuem filiados ao mesmo sindicato quando eram trabalhadores ativos, devemos conseguir que avancem um passo na defesa dos seus direitos pós-laborais, direitos que também necessitam de luta sindical continuada e classista.

Os dirigentes do capitalismo são conscientes de que as pensões que correspondem aos aposentados constituem um dos pilares econômicos mais importantes dentre as que se movem no planeta. Eles desejam privatizar todas as pensões para poder especular com estes enormes fundos financeiros. Lembre que apenas no estado espanhol já atinge 120 bilhões de euros recebidos em todos os anos os pensionistas dos fundos públicos. Se somarmos as cifras de toda a Europa ou de todo o planeta, veremos a importância econômica que tem este direito a uma velhice digna que conquistamos como trabalhadores, graças à luta sindical que impulsionou a FSM desde seu surgimento há 68 anos e graças ao exemplo dos países socialistas onde se conquistou o direito a uma aposentadoria digna com apenas 25 anos de vida laboral.

Termino dizendo que os PeA podem passar a ser, com nossa experiência sindical e com os dados e informações que dispomos, os melhores propagandistas de que temos que destruir o capitalismo para criar a sociedade socialista em todo o planeta.

Muito obrigado camaradas,

Quim Boix

CP, Conselho Presidencial

Roma, 14 de fevereiro de 2014.

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(*) No Brasil, definimos pelego o sindicalismo amarelo. Pelego é uma espécie de tecido macio que amortece o peso do cavaleiro sobre o cavalo. Esse tecido fica entre o assento e a costa do animal, embaixo da sela. Daí a expressão: pelego, pois alivia a luta dura dos trabalhadores contra o patrão, característica típica do sindicalismo amarelo.