A CCOO deixou de ser um sindicato de classe

A CCOO deixou de ser um sindicato de classe

Para alguns dos leitores, esta afirmação lhes parecerá demasiado contundente, mas lamentavelmente, é tão certa que é difícil reverter essa condição. Não se trata de discutir desde quando deixou de ser, porém sem lembrar que a CCOO, fundada há 50 anos, já não cumpre com os “requisitos definitivos de um sindicato de classe”, se nos baseamos nos próprios documentos de fundação da CCOO.

Os 4.000 caracteres aproximados que, segundo me orientaram, deve possuir esse texto, não me permitiram estender mais. Assim, farei em novos artigos em outras oportunidades. Mas, vou lembrar ponto a ponto o que era o sindicato CCOO em sua fundação (fazendo um referente na Espanha e fora dela) e que deixou de ser hoje. Deixando claro que me refiro à totalidade do sindicato e em especial os seus dirigentes atuais, não nos casos concretos nem nas partes importantes da base sindical honesta e lutadora (que cada dia tem menos peso nas decisões da direção).

A CCOO já não é um sindicato de classe por não defender a classe trabalhadora, os explorados frente aos reais ataques do seu inimigo, a classe empresarial (burguesa, capitalista). Nega a existência da luta de classes pelo simples fato de não falar dela (como antes sempre fazia) em nenhum dos seus documentos, nem congressuais nem nas principais resoluções. E mais, adotou em sua “linguagem oficial” a terminologia que usam os inimigos da classe trabalhadora: “agentes sociais” para designar classe social, como melhor exemplo.

A CCOO já não é um sindicato independente capaz de ajudar os assalariados para saberem que são explorados e que tem a mais-valia produzida roubada. Seus cursos de formação dependem das subvenções recebidas da EU e dos governos burgueses e possuem conteúdos que não incluem nada que se distinguem, no fundamental, da concepção capitalista da sociedade.

A CCOO já não é um sindicato democrático por não respeitar, nas decisões que adotam os dirigentes, as opiniões dos trabalhadores. Na maioria dos casos nem se consulta o afetados (o exemplo da PANRICO é, entre muitos, um dos mais recentes e mais dolorosos) e, se são consultados, não se respeita sua opinião quando não convém aos interesses dos dirigentes.

A CCOO já não é um sindicato representativo da classe trabalhadora por ter assinado muitos Acordos Sociais, entendidos como pactos em que o beneficiado era o capitalismo. Um dos mais escandalosos e recentes foi a aceitação da nova redução das pensões, quando há dinheiro suficiente para elas.

A CCOO já não é um sindicato de assembléias, ao tomar constantemente sua decisão sem realizar as necessárias assembléias de debate e contraposição de argumentos, única forma de conseguir que o voto de cada trabalhador se realize em base de argumentos contrapostos. A última experiência positiva de sua prática de assembléias se remonta aos anos 80, quando na cidade em Catalunha se realizaram assembléias em todas as grandes empresas e comarcas para decidir se aceitava o Acordo Social. A maioria dos participantes disse NÃO ao Acordo Social, mas os dirigentes da CONC votaram SIM na reunião estatal.

A CCOO já não é um sindicato participativo, ao escrever as propostas que leva as mesas de negociação nos despachos da cúpula dirigente, que depois tenta apresentá-las como melhor opção para os assalariados. Na realidade, hoje a CCOO não consulta, nem seus filiados antes de assinar os grandes Acordos com os governos (do PP ou do PSOE) e os patrões.

A CCOO já não é um sindicato unitário, por não trabalhar pela unidade dos diversos sindicatos e por aceitar a divisão da classe trabalhadora imposta pelos patrões. Refiro-me às convenções aceitas por esse sindicato (o primeiro foi o da Pirelli no final do século passado) em que a CCOO concorda com as diferenças nas escalas salariais e em outras condições laborais, segundo o tempo de serviço ou outros critérios.

A CCOO já não é um sindicato de luta, por não convocar ações que realmente possam obrigar os patrões a ceder frente às justas demandas dos trabalhadores. Nos últimos anos, se limitou a convocar ações (greves e manifestações) mais para deixar empenho da sua existência como sindicato que para forçar um acordo útil para a classe trabalhadora.

As CCOO já não é um sindicato sociopolítico, por não participar mais que esporadicamente (e puxado por outras organizações) nas lutas gerais, solidárias, ambientais, por moradia, contra as privatizações, por pensões dignas e outras, das que anteriormente era impulsor e protagonista.

A CCOO já não é um sindicato internacionalista, por não defender a unidade da classe trabalhadora para além das fronteiras dos estados, que a burguesia tem estabelecido para fazer funcionar o capitalismo mundial, nem criticar (como fazia antes) o imperialismo que é o que se impõe (para roubar as riquezas dos povos, como anteriormente faziam os colonizadores). O mais escandaloso nesse aspecto foi o apoio à CSI (Confederação Sindical Internacional), que a CCOO faz parte, no discurso público de apoio à OTAN quando esta essa aliança militar invadia a Líbia.

No vou analisar os tristes e abundantes casos de corrupção em que estão envolvidos importantes dirigentes da CCOO, nem comentar que não é uma casualidade que os sucessores de Marcelino Camacho (me refiro a Antonio Gutiérrez Vegara e José María Fidalgo) terminaram no PSOE e no PP respectivamente. São conseqüências lógicas do contínuo abandono das posições de classe.

Quim Boix Lluch, ex-fundador e ex-dirigente estatal da CCOO, atual dirigente da FSM (Federação Sindical Mundial).